O filme apresenta o Papa Bento XVI e o Papa Francisco em diálogo, no tocante ao ministério petrino de ambos. Achei o filme artisticamente bem feito, mesclando línguas diferentes nos diálogos, algumas cenas reais também. Dei risada em alguns momentos de um humor bem apropriado.
Saindo desta roupagem artística, que me agradou, vamos para o conteúdo, sempre mais importante em um filme que se apresente como próximo do verídico. E já adianto que o conteúdo não me agradou. Explico por que.
É claro no filme uma crítica ao Papa Bento XVI. Uma crítica que não é nova: colocar nele a pecha de um homem frio, um burocrata da Cúria Romana. Além disto, de certo modo amargurado com sua missão papal e sofrendo de uma profunda crise de fé. Diz-se, no início, que ele queria ser papa e que parece ter se arrependido depois. Ele diz estar “sozinho”, triste, e lamenta: “eu perdi”. E um dos motivos de sua tristeza é, segundo ele, por que “pequei por não ter tido coragem de experimentar a vida”. O Papa Bento parece ser um frustrado por ter devotado toda uma vida ao estudo e oração. Por fim, de forma cruel, o diretor faz Bento XVI dizer que seu motivo de ter renunciado ao Papado foram abusos sexuais de menores que ele teria acobertado.
Esta descaracterização de Bento XVI que, como observou um amigo meu, já começou na escolha do autor que o interpreta, conhecido por filmes de psicopatia, não é nova. Incapaz de bater em João Paulo II, devido à sua grande popularidade, a mídia sempre atacou Bento XVI, explorando seu jeito reservado e sua missão difícil de cuidar da defesa da fé da Igreja. Qualquer coisa que ele falava era logo propositadamente mal interpretada e ele era acusado de retrógrado e outras coisas mais.
Não poderia ser diferente. Ele dizia verdades, com caridade, que não são apreciadas. Sob seu comando, a Igreja reforçou o milenar ensinamento sobre a sua moral, como por exemplo, o grave erro de uniões do mesmo sexo. Estes e outros temas não são aceitos pela mídia mundana. Ao colocar em sua boca a frase que não aproveitou a vida, o filme insinua que o homem que não viveu segundo a felicidade do mundo não é feliz. Nunca estive com Bento XVI, mas leio seus livros e a impressão que me passa é outra: um homem sábio, em paz, que vê sempre em Deus sua rocha e fortaleza (sugiro a leitura de Introdução ao Cristianismo).
Mas o principal objetivo do filme, e daí a crítica a Bento XVI, é claro: Não se pode ser conservador. Deve-se abolir o celibato sacerdotal, que “surgiu no século XII”. Até a crença em anjos “do século V” estaria atrapalhando. A Igreja “está perdendo fieis” por tudo isso. Há uma “beleza no caos” e a Igreja “precisa mudar”.
Além das mentiras teológicas (há documentos falando do celibato sacerdotal desde o século IV, mas a vivência já vinha desde os apóstolos; a fé nos anjos remonta aos judeus), um erro grave é imposto nas entrelinhas: a Igreja precisa mudar. Mudar segundo o que o mundo, que não tem fé, pensa que ela deve ser. Mudar para se tornar uma espécie de ONG, sem valores religiosos e morais claros. Mudar para apoiar e propagar o fim do matrimônio entre um homem e uma mulher, o aborto, a eutanásia, negar Cristo como nosso único Salvador e não dizer verdades. Algo que agrade o relativismo mundano, tão criticado por Bento XVI.
Não, a Igreja não deve mudar! Ela deve, sim, passar por reformas, como ela mesma sempre falou e fez (Ecclesia semper reformanda est). Parece simples jogo de palavras, mas não é. Reformar, como nos ensina o filósofo Hildebrand, é uma volta às suas raízes. A Igreja pode (e deve!) ser reformada em sua comunicação, seus meios de evangelização, suas estruturas burocráticas, alguns costumes. Deve ser sempre atenta aos pobres. Um “Hospital de campanha” (Papa Francisco) e sair em busca da ovelha perdida, não se fechando nela mesma. Mas jamais mudará seus ensinamentos pétreos, que tem no Senhor sua origem. O mundo quer mudança na Igreja, não reforma.
Falei muito de Bento XVI porque vi que ele foi o alvo principal do enredo. Mas o filme inicia sobre João Paulo II, com belas imagens (aspecto artístico), mas notando que ele foi contra a teologia da libertação (de inspiração marxista), não aceitou os homossexuais e a contracepção… E o filme fala do Papa Francisco. Ele é apresentado como de uma personalidade aberta e feliz. E isto é verdade. Mas o recado é este: que ele faça as mudanças na Igreja que o mundo quer. Caso contrário também será duramente criticado. Novamente: reformas precisam ser feitas com certeza. Mudanças no depósito da nossa fé nenhum Papa as fará.