CONSTELAÇÃO FAMILIAR: ANÁLISE SOB O PONTO DE VISTA DA FÉ CATÓLICA

Great Reset1) O que é

É uma forma de terapia que se apresenta como “particularmente útil para aqueles que são descendentes de grandes incidentes traumáticos em sua família ou cultura.[1]Seu fundador é Bert Hellinger, um alemão, padre, missionário entre os zulus (tribo africana) por 16 anos. Após uma experiência no movimento ecumênico deixou o sacerdócio. Voltou à Alemanha onde estudou várias abordagens terapêuticas, até desenvolver a sua própria. Foi casado por duas vezes.

2) Principais ideias:

– nós somos governados por campos de energias que nos dirigem e que contém as memórias que passam de geração para geração (alma da família)

As gerações familiares estão conectadas por um sistema de energia, tanto energias positivas quanto negativas

A “força da vida” age entre os membros de uma família, mas se algum dos indivíduos está excluído, a força da vida é interrompida; [2]

– “Sua linhagem de família, eventos históricos e eventos planetários são os mapas para quem você é”[3]

– a família quer permanecer como um todo; se um dos seus está fora do grupo (por doença, desvio moral, etc), esta energia vai fazer de tudo para que seja restabelecida a união. Tal é a força disto que, por exemplo, uma pessoa pode morrer porque em algum momento ela percebeu que alguém estaria fora do grupo e ela disse a si mesma que morreria para estar com aquela pessoa. Isso porque, na ordem do amor, o sentimento de pertença é o mais importante

“Os distúrbios [na ordem do amor] e no sentido de pertencimento essencial para o bem-estar, muitas vezes se manifestam em padrões disfuncionais que reaparecem em um sistema familiar geração após geração. Às vezes, nossa forma de pertencer é sofrer como aqueles que vieram antes de nós (…) Alguém pode ficar “enredado” no difícil destino de um ancestral e, inconscientemente, atrair infelicidade, fracasso, vício ou doença para sua própria vida.”[4]

“A ideia básica é que os conflitos não resolvidos de nossos ancestrais são transmitidos de geração em geração, causando-nos problemas no presente por serem somatizados na forma de distúrbios e doenças.”[5]

– Há uma tentativa de dar suporte científico a esta terapia, com base na epigenetica[6]. Segundo a constelação familiar, traumas causam modificações que passam entre os membros de uma família;

– os trauma nas gerações de uma família deixam marcas no “cérebro ancestral” com o qual todos os membros estão conectados, e passam “a ser expressos por meio de sentimentos, comportamento e padrões em nossa vida.”[7]

“não há tal coisa como pessoa esquizofrênica; há almas familiares esquizofrênicas”[8]

3) Terapia

O que se busca não é a cura de um indivíduo, mas de toda a família;

Forma-se um “campo de energia” no momento da terapia;

Na sessão ou nas sessões, são resgatadas as heranças espirituais da família, para explicar os problemas presentes e apresentar uma solução. Mas a solução também não é clara. O terapeuta explica que a pessoa pode sentir dores ou ter efeitos purgativos no corpo nos dias seguintes às sessões[9]

Na terapia, pessoas são escolhidas para representar alguém da família do caso que se está tratando. Na representação, a alma da família passa pela pessoa que está representando alguém da família;

“Em pouco tempo, os representantes começam a experimentar sensações físicas, emoções ou desejos pertencentes não a eles próprios, mas aos membros da família que representam. É como se tivessem se tornado antenas, recebendo informações de uma “alma familiar” que misteriosamente está presente na sala (…) Os representantes não estão representando. É importante que as pessoas que atuam como representantes “saiam de suas cabeças” e “entrem em seus corpos”. Eles apenas esperam e percebem como se sentem.”[10]

 

4) Avaliação

Esta avaliação se dá sob o ponto de vista da fé católica, não da psicologia.

Embora sendo uma técnica que procura ajudar as pessoas, e não podemos colocar em dúvida que seus aplicadores têm este bom propósito, a Constelação traz consigo algumas ideias e práticas que são preocupantes, sob o ponto de vista da fé.

O senhor Hellinger, criador da Constelação, trouxe grande parte de suas ideias do povo zulu, com o qual conviveu como padre missionário. É imprescindível conhecer um pouco da cultura e religião deste povo para entender melhor a constelação.

O povo zulu tem uma ideia de família diferente da nossa. A família é muito mais larga, incluindo os falecidos como parte integrante da mesma, com grande veneração pelos seus ancestrais. Para os zulus, os ancestrais podem se comunicar com os vivos por meio de fenômenos da natureza, bem como até mesmo pelo sofrimento de um dos membros da família.

Os ancestrais também demandam uma certa “atenção” dos vivos, pois, de alguma forma, dependem dela. Caso a memória do ancestral não seja mantida (cultuada) pelos seus, eles vêm lhes perturbar (esta crença é muito presente em outros povos antigos, como celtas, romanos, etc);

Ora, esta concepção alargada de família, incluindo a participação direta dos mortos, não se coaduna com o que a fé cristã nos revela sobre a família. Sabemos, pelo ensinamento bíblico, que, quando uma pessoa morre, ela vai imediatamente ao julgamento divino. A partir daí, salvo casos muito excepcionais, ela não tem mais nenhuma interação com os que ficaram neste mundo[11];

Ainda que não defendendo isso abertamente, a Constelação parte de um ponto de vista sobre membros falecidos das famílias como se eles fossem uma espécie de entidades que estão em pleno contato com os vivos[12]. Nossa fé cristã tem como certa a comunhão dos santos, ou seja, nossa união em Cristo com os que estão neste mundo (Igreja militante), com os que estão no purgatório (Igreja padecente) e com os que já estão na glória (Igreja gloriosa), porém, não há uma relação direta que cause enfermidades, traumas, etc;

Em certos textos, a Constelação procura dar uma base “científica” às suas afirmações, tais como a já mencionada epigenética e mesmo na teoria quântica. O conceito de Quantum healing vem de Deepak Chopra e foi uma das bases da Nova Era já no seu despontar, afirmando que a energia da mente cura as enfermidade. Outra ideia “científica” é a teoria de memórias coletivas (morphic resonance) que vem do botânico Rupert Sheldrake que, nos anos 80, falava sobre isso. Para ele, todos os seres têm hábitos que se perpetuam[13]. Por científicas que pareçam à primeira vista, são na verdade hipóteses pseudocientíficas, não aceitas pela comunidade científica.

Não existe uma má ação dos nossos antepassados sobre nós. O que pode acontecer é que, caso uma família tenha se aberto à influencia do inimigo (por prática ocultas), pessoas desta família podem vir a sofrer ataques do mal (tentações, vexações, etc), no futuro. Todavia, neste caso, o que acontece é uma ação extraordinária no maligno, não uma ação em consequência de uma alma familiar;

– Deus nos criou com uma alma pessoal; não existe uma alma familiar;

– nossos antepassados podem nos influenciar indiretamente, por meio da educação que nos deixaram ou pela genética, mas não com uma influencia atual por uma força familiar em ação;

– assistir às sessões da Constelação, onde pessoas passam a agir como membros falecidos das famílias, é algo perturbador. Pode ser uma simples auto-sugestão no agir, mas há um perigo que pessoas venham a realmente receber algum “antepassado” nestes momentos, principalmente se houver alguma evocação de mortos, algo condenado pela Palavra de Deus (cf. Lv 19,31) ou se pessoas ali atuando já tem a experiência de servirem como médiuns (canais) para espíritos;

– Frases como: “só eu sabia disso que foi revelado na sessão” não surpreendem, pois o Inimigo, se presente em uma sessão, pode revelar o passado.

– ao participarem destas sessões, as pessoas não sabem que estão participando de um ritual tribal, de evocação de mortos;

Eis o testemunho que recebi de um certo padre, sobre uma sessão:

“Olá, padre, bom dia. Sou o padre J. Sobre a sua pergunta sobre Constelação Familiar, eu tive a oportunidade de participar de uma sessão. Pareceu-me uma mistura de charlatanismo com espiritismo, uma vez que se “evocam” personagens sobre as pessoas, que têm que “atuar” para que a terapia aconteça. Mas a “atuação” é tão realista que fiquei na dúvida se era mesmo apenas autossugestão ou se havia algum tipo de incorporação de espíritos ali. Resumindo: foram as 4 horas mais estranhas daquele ano. Não quis voltar para o segundo dia de sessão. Eu estava ali como observador-convidado.”

Um outro testemunho, de uma mulher que foi a “constelada”:

“eu comecei a falar sobre a vida dessa pessoa, senti que eu era o filho dela que morreu quando era criança, senti a dor emocional e as palavras saiam da minha boca. Eu estava ali, mas ao mesmo tempo não era eu”.

Esta mesma mulher também recebeu a “explicação” sobre a razão de suas alergias: em uma vida passada ela era cientista e realizava experimentos nela mesma, por isso nesta vida ela ainda carrega as consequências do que fez na outra vida e tem alergias. Esta explicação sobre a causa da alergia traz um outro problema de fé: ela aponta para a crença na reencarnação dentro da Constelação[14], enquanto que sabemos que não existe reencarnação, pois, segundo a palavra de Deus, “”está determinado que os homens morram uma só vez, e logo em seguida vem o juízo” (Heb 9,27).

Por fim, a Constelação parece desvalorizar a liberdade que Deus nos deu, pois os problemas das pessoas estariam sendo consequências da ação familiar sobre ela;

Por tudo o que foi dito, eu não indico esta forma de terapia, devido a certos pontos duvidosos e até perigosos, no tocante à vida espiritual cristã, que vejo na mesma. A Constelação Familiar é mais um ramo da Nova Era, este movimento espiritual que engloba tão variadas formas de espiritualidade, mas em nenhuma delas um real encontro com nosso Deus vivo. Pelos testemunhos acima podemos ver quão nebuloso é tudo isso e quão propício à ação do maligno, que se aproveita de situações assim.. As pessoas são livres para escolher fazer esta ou tantas outras terapias à disposição, mas devem saber que se expôem a perigos espirituais.

 

Pe. Silvio Roberto, MIC

Finalizado no dia da Memória de Santa Bakhita (08/02) mulher de uma tribo africana, que sofreu tantas injustiças, mas teve a graça de encontrar-se com Jesus, com quem vive hoje na eternidade.

 

[1] https://familyconstellations.com.au/

[2] Cf. https://www.youtube.com/watch?v=wZ1oYiR5VpM

[3] https://emilywaymire.com/

[4]https://www.youtube.com/watch?v=wZ1oYiR5VpM http://www.theconstellationsgroup.com/faq.html#:~:text=Family%20and%20Organizational%20constellations%20are,%2C%20workforce%2C%20customers%2C%20etc.

[5]https://lavenganzadehipatia.wordpress.com/2015/11/01/constelaciones-familiares-lo-que-no-se-cuenta/

[6] Este ramo da ciência estuda modificações nos cromossomos celulares que poderão passar para outros membros da família. Nada, no entanto, em relação a transmissão de traumas entre familiares.

[7] https://familyconstellations.com.au/the-ancestral-brain/

[8] https://www.youtube.com/watch?v=wZ1oYiR5VpM

[9] Como também ocorre  com a microfisioterapia e medicina germânica.

[10]http://www.theconstellationsgroup.com/faq.html#:~:text=Family%20and%20Organizational%20constellations%20are,%2C%20workforce%2C%20customers%2C%20etc.

[11] A pessoa que morreu e foi para o céu com certeza irá interceder diante de Deus por nós para que também cheguemos à visão beatífica.

[12] As religiões de matizes africanas têm uma relação bem diferente com os mortos. Os orixás seriam pessoas que evoluíram, tornando-se deuses pagãos; oguns: entidades de nível médio na evolução; Exus: entidades menos evoluídas, maus;

[13] https://www.sheldrake.org/research/morphic-resonance/introduction

[14] https://www.youtube.com/watch?v=B2xwW5Sz2TA

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