Guerra nas Estrelas e sua teologia subjacente

star wars                   Chegou ao Brasil mais um filme da séria Guerra nas Estrelas, que tem gerado uma grande ansiedade entre os seus fãs, perceptível nas postagens anteriores à estreia. Sei que há um público que se identifica muito com a série e, a princípio, não vejo mal nenhum nisto. Um amigo meu, americano, hoje sacerdote, quando seminarista nos colocou em uma sala escura, só para admirarmos a trilha sonora da série… para ele aquilo era o máximo; para mim e para os outros gerou a alegria de estar juntos em um momento de confraternização com um irmão de comunidade.

Porém, como nem tudo é simples passatempo na indústria da diversão,  é salutar um olhar crítico para a série. Limito-me aqui a uma breve observação sobre o último (e um dos poucos que me lembro) filmes que assisti da mesma:  Guerra nas Estrelas III – a vingança dos Sith.

Este filme, particularmente, foi carregado de teologia (aliás, o mundo não pode viver sem ela e está repleto de suas filhas, nem todas legítimas: teogonia, teosofia[1], etc). A ideia básica do filme está em duas forças que agem no Universo, o bem e o mal. Até aí, se darmos a devida proporção, tudo bem. O problema, para nós cristãos, é que, segundo o filme, estas forças parecem ser eternas, se equivalem ou – dá a impressão – o mal é um pouco mais forte do que o bem.

Este tipo de pensamento sempre foi enfrentado pela Igreja, sendo que sua vertente mais famosa foi o maniqueísmo, ao qual o jovem Agostinho pertenceu, mas do qual conseguiu se desvencilhar, quando encontrou o Cristo.

É verdade que a força do mal é sedutora e pode convencer o ser humano para levá-lo ao seu campo. Neste ponto não há problema no filme, pois é uma realidade que todos sentimos na pele. Porém, o filme avança na sua compreensão de relação com o mal: Em certa cena, o “senador” diz ao jovem jedi que o homem deve necessariamente conhecer ambos, o bem e o mal. Isto não nos soa familiar como cristãos? O que o demônio disse a Eva, senão que ela deveria experimentar o bem e o mal para tornar-se como Deus (cf Gen 3,4)?

Há uma equivocada epistemologia[2] na sociedade segundo a qual o mal não é em si ruim, mas um auxílio no processo de conhecer. Esta ideia é totalmente contrária ao pensamento judaico-cristão, para o qual bem e verdade andam juntos e só assim o homem é verdadeiramente sábio e livre (cf. Jo 8,32). Podemos concordar que a experiência do mal, em alguns casos, leva ao reconhecimento do bem, mas não como regra a ser buscada. A criança que sobe em um banco, desobedecendo à sua mãe, cai e bate a cabeça; aprende daí que fez uma escolha errada. Mas este não deveria ser o meio buscado para a aprendizagem. Fugir do mal é uma atitude prudente e característica dos santos.

Por fim, ainda naquele filme, ao final, um idoso diz a um jedi que alguém que havia morrido voltou à vida e iria ensiná-lo este segredo (a volta à vida). Duvido muito que ele se referia à ressurreição dos mortos… Os filmes de Hollywood são cheios de referência ao espiritismo, país onde nasceu a concepção moderna desta doutrina, que tem por base a reencarnação e que, por isso mesmo e por outros motivos, é diretamente oposta à nossa fé cristã.

Não quero decepcionar os fãs da série e muito menos dizer para não assistir o filme que acaba de ser lançado. Penso que talvez eu irei vê-lo. Pode ser que o novo filme venha a modificar a ideia do anterior que acabo de comentar. Mas vejo a necessidade de estarmos atentos às teologias subjacente nesta série ( e em tantas outras), principalmente para que os adultos possam tirar eventuais dúvidas dos seus filhos e netos, aproveitando a ocasião para evangelizar, mostrando-lhes a teologia que é peculiar a nós cristãos: o mal existe, é perigoso e por isso deve ser evitado e não se compara ao bem, que tem a palavra final.

 

Pe. Silvio, MIC

Diretor da Casa Pró-Vida Mãe Imaculada

 

[1] A teosofia, uma forma de esoterismo, foi fundada por Helena Blavatski. Ela viveu no Tibet, onde disse ter tido revelações especiais sobre as diferentes eras e raças humanas; voltando a Alemanha, difundiu o mito da raça ariana, como superior. Semeou assim o que mais tarde alimentou o nazismo e fez eclodir a II Guerra. É uma das maiores inspiradoras do movimento “Nova Era”.

[2] Epistemologia: ciência que procura definir como se dá a aprendizagem

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