Batman vs Superman: queremos Deus?

superNo mundo dos quadrinhos, o confronto entre o Super-Homem e o Batman é um confronto de proporções épicas, superior a todos os demais. Ele traz em si muito simbolismo (ser humano vs alienígena, bandido vs mocinho, sombra vs luz). Mas, o tema de fundo deste filme, como veremos é o confronto ser humano vs deus e este é o motivo pelo qual, mesmo que você leitor não saiba nada sobre histórias em quadrinhos, pode se interessar por este texto. Há muitas ideias filosóficas e teológicas, tão presentes na sociedade, ou pelo menos em setores desta, aqui neste filme.

Antes de ir adiante, ajuda a entender o filme saber que ele é baseado na história dos dois super-heróis conforme apresentada nos distantes anos 90. Batman, na época, passou a encarnar uma nova personalidade: ele é agora, mais do que nunca, o cavaleiro das trevas, sombrio, másculo, vingativo. O Super-Homem, por sua vez, encontra a morte, enfrentando uma criatura grotesca. Tudo isso para que seja reabilitado com sua ressurreição (pois ele é a figura de Jesus, como veremos). O filme que analisamos junta estes dois personagens em seus distintos momentos.

Deus vs homem

O pano de fundo filosófico do filme não é a tradicional luta entre o bem e o mal. Aqui a luta é entre deus e homem. O super-homem, desde o seu início nos quadrinhos, foi criado para ser comparado à figura de Jesus. Assim como o Senhor, ele vem do céu, com um nome semelhante aos nomes judaicos ( karl el), tem superpoderes, morre e ressuscita. A cena da sua morte é uma paródia da morte de Cristo, com direito a “São João” (batman), Maria (Louis Lene) e Maria Madalena (Mulher maravilha) aos pés da cruz (sim, há uma cruz, que rapidamente aparece no canto esquerdo da tela!). O super-homem é, portanto, apresentado como deus. Mas um deus que sofre de dúvidas, angústias, paixão e que causa mortes e sofrimentos, tal qual os deuses do panteão grego.

A humanidade se pergunta se precisa deste deus. Alguns querem julgá-lo e condená-lo, se não à morte, pelo menos ao ostracismo. Caso ele renuncie ao seu poder, deixando de agir na vida social já é aceitável. Na pessoa do personagem o filme está reabilitando a não aceitação de Deus, por parte do secularismo vigente. Para isso, são resgatados os argumentos filosóficos ateus: “Deus é uma criação humana, dizia Feuerbach, produto de nossa mente que almeja ser deus”. Depois dele, um outro foi além: “Deus está morto” bradava o filósofo Nietzsche (um dos mais revoltados, entre os filósofos moderno, que morreu literalmente louco, corroído pela sífilis). Para ele, nós somos os super-homens, sem a necessidade de um deus entre nós.

O motivo desta rejeição a Deus é um argumento caro aos ateus, que remonta ao filósofo Epicuro: Se Deus é superpoderoso ele não é bom, porque o mal existe e ele permite; se Deus é bom, ele não é superpoderoso, porque o mal existe e ele não pode fazer nada. O pensamento ateu, materialista, não consegue conceber que o amor de Deus o faz sofrer com a maldade no mundo que é produto do mal uso de nossa liberdade e que a Sua resposta a este mal é vir ao nosso socorro, assumindo nossa natureza, para levar-nos a Ele.

Salvação da humanidade

Mas, sem aceitar Deus, a humanidade tem salvação? A humanidade pintada pelo filme está em uma situação de grande escuridão moral. Em diferentes momentos é dito que não há mais pessoas boas, que todos se corromperam. O clima é pessimista. O próprio Batmam seria a imagem do justo que se corrompe. Mas é este mesmo Batman que afirma que a humanidade pode ser salva, mas por si mesma. Este é o pensamento da nova “religião” humanista que está entre nós.

A salvação da humanidade se dará, porém, somente depois que ela chegue às cinzas, passando por um apocalipse (esta palavra é muito usada também em outros filmes do gênero!). Apocalipse aqui é tanto o monstro que mata o super-homem como sinônimo de destruição, de tempo de terror. É bom o cristão se lembrar que o sentido real da palavra é “revelação”; a revelação deixada pelo próprio Jesus para a Igreja, no tocante à Sua vitória final. Após o apocalipse destrutivo, a humanidade, como dito, poderá se restabelecer, mas ainda assim alguns salvadores são necessários: pessoas com poderes especiais, que possam formar uma liga da justiça… (aqui deixamos o comentário para outro filme).

É um filme interessante, com muito material para reflexão. Uma das reflexões é admitir que nós precisamos sim de Deus, pois não é a justiça meramente humana, sem misericórdia, ou mesmo o nosso consenso que irão mudar o mundo. Neste tempo pascal, nós cristão que o assistimos refletimos sobre a real situação da humanidade e afirmamos que esperamos sim um Salvador, que na verdade já veio, venceu e é vencedor em nossas vidas.

 

Pe. Silvio R. Roberto, MIC

P.S.: para quem quiser se aprofundar no simbolismo e arquétipos envolvendo os super-heróis, sugiro a leitura de: Nossos Deuses são super-heróis; editora Cultrix.

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