Em caminho para o céu, o Senhor nos advertiu que a porta é estreita e que precisamos nos esforçar para passar por ela (Cf.: Mt 7,13ss). Nós cristãos precisamos fazer penitências, jejuns, abstinências e mortificações para ganhar força na caminhada.
A Quaresma, tempo em preparação para a Páscoa, é também o momento penitencial por excelência, onde a Mãe Igreja chama seus filhos à conversão. Para chegar a este fim – a conversão – a mesma Igreja, baseada na Palavra de Deus, nos apresenta um meio muito necessário: o jejum. São diversos os textos que nos falam desta forma de combate, como, por exemplo: Jer. 18,11; 25,5; Ez. 18,30; 33,11-15; Joel 2,12; Mt. 3,2;4:17; Lc 5,35; Atos 2,38). Caminha junto com o jejum a abstinência. A seguir vamos entender um pouco mais sobre estas formas de penitência.
O QUE É O JEJUM E COMO JEJUAR?
Jejum é deixar de comer em determinado dia ou diminuir consideravelmente a quantidade de comida.
A Igreja não estabelece formas rígidas e totalmente determinadas de jejum, dando aos fieis liberdade em como praticá-lo. O fundamental é que a pessoa coma pouco nos dias de jejum e que a alimentação seja simples. Mas, embora não haja regras fixas de como jejuar, a tradição nos dá algumas possibilidades:
– fazer nos dias de jejum somente uma refeição mais consistente, comendo pouco nas outras horas de refeição. Ou:
– comer bem pouco em qualquer das horas de refeição. Ou:
– passar o dia a pão e água. Ou:
– passar o dia somente tomando líquidos (sucos de fruta, chás, sopas ralas…)
É importante, seja qual for a forma acima praticada, que não haja pequenas “beliscadas” de alimentos entre uma refeição e outra nos dias de jejum.
Se serve de consolo, até recentemente (anos 60) o jejum na Igreja se dava durante todos (!) os 40 dias da quaresma (não só na quarta-feira de cinzas e sexta feira santa), consistindo na primeira forma aqui apresentada.
ABSTINÊNCIA
A abstinência se difere do jejum por que não significa necessariamente comer menos, mas sim deixar de comer algo (ex.: abster-se de comer doce); pode também se referir a outra coisa que não seja comida (ex.; abster-se de assistir séries de tv; abster-se de entrar nas mídias sociais, etc). Pode ser praticada em um determinado dia ou mesmo durante todo um período (toda a quaresma, por exemplo). Pode ser abstinência de carne, de doces, de bebidas, de internet, de cigarro, de bebida…
DIAS DE JEJUM E ABSTINÊNCIA
O jejum e a abstinência são obrigatórios na Quarta-Feira de Cinzas (início da quaresma) e na Sexta-Feira Santa. Nestes dias, além de jejuar, o fiel deve se abster de carne.
Durante toda a quaresma é altamente recomendável que alguma forma de abstinência (alguns dizem “fazer uma entrega”) seja praticada.
Além destes dois dias principais de jejum, durante todas as sextas feiras do ano, com exceção dos dias de solenidade litúrgica (natal, etc), os fieis devem se abster de carne. No entanto, por decisão dos bispos do Brasil, também podem substituir esta forma de abstinência por uma obra de caridade ou exercício de piedade.
PENITÊNCIA NOS DOMINGOS?
Todavia, surge uma questão: deve-se fazer penitência também nos domingos da quaresma ou não? Não se deve fazer jejum neste dia, pois é um dia festivo. No entanto, não há nada que impeça dar continuidade à abstinência da quaresma neste dia (por exemplo, continuar sem comer carne, ou sem assistir tv, etc). Quem “quebrar” a sua abstinência neste dia não peca, mas quem mantê-la não somente não peca, quanto avança na virtude. Esta mesma regra vale para as solenidades dentro da Quaresma (São José e Apresentação do Senhor)
PODE-SE INTERROMPER UMA PENITÊNCIA POR CONTA DE TERCEIROS?
Se uma pessoa se propôs a não comer carne na quaresma, mas, na visita a um amigo, a refeição que tem leva um pouco de carne, ela pode comer? Neste caso entra o bom senso: a pessoa tanto pode dar um bom testemunho dizendo: eu estou fazendo penitência, então vou comer somente a salada e algo mais que tenha à mesa, como, se ver que a pessoa ficará muito constrangida (uma mãe idosa, que fez aquele prato com tanto carinho, por exemplo), pode deixar de lado aquela abstinência, somente naquele momento, em favor de uma caridade.
IDADE PARA JEJUM E ABSTINÊNCIA
Obrigatoriedade do jejum a partir dos 18 anos até os 59;
Obrigatoriedade da abstinência dos 14 anos até o fim da vida;
DISPENSA
Estão dispensados de jejum e, de acordo com a circunstância, também da abstinência, os doentes, grávidas, bem como aqueles que desenvolvem árduo trabalho braçal ou intelectual no dia do jejum.
POR QUE FAZER PENITÊNCIA?
Os motivos para fazer penitência, seja ela qual tipo for, são:
– tirar o controle do corpo (concupiscências) e passar para a alma (reta vontade);
– vencer defeitos e vícios;
– afugentar o demônio (que tem medo de pessoas virtuosas);
– livrar-se de apegos desordenados;
– reparar Nosso Senhor tão ofendido pelos gravíssimos pecados da humanidade e pelos nossos pessoais;
JEJUM OU OBRAS DE CARIDADE?
Tem surgido uma polêmica, que diz que não é necessário fazer penitência física durante a quaresma (jejum, abstinência), mas sim fazer obras de caridade, como, por exemplo, não falar mal do próximo, ser mais atencioso, etc. Temos aqui o exemplo de uma polêmica sem sentido, uma falsa dicotomia. A questão não é isto ou aquilo, mas ambos. A penitência sempre fez parte da vida do povo de Deus no Antigo Testamento e continuou na vida dos cristãos. E vamos nos lembrar que o próprio Jesus jejuou (e bastante!). Como, pois, dizer que não precisa mais? Por outro lado, é claro que a penitência que não for acompanhada por uma busca de viver a caridade em atos é vazia, sem valor.
Por fim, lembramos ainda que, segundo a Palavra de Deus, devem seguir junto com o jejum e a abstinência a oração e os atos de caridade. Uma oração muito propícia para a quaresma é a via sacra e, entre os atos de caridade, visitar os doentes e doar cesta básica a uma família carente, por exemplo. É salutar que aquilo que deixamos de comer nos dias de jejum seja dado aos pobres.
Em tempo: embora o texto dê ênfase à quaresma, o jejum e a abstinência podem (e até devem) ser praticados ao longo de todo o ano, ainda que de forma mais comedida.