Crônica de 5 dias inesquecíveis

FullSizeRender     Tive a graça de ter 5 dias de retiro naquela que, para mim, é a cidade mais bela do mundo: Assis (Itália). Roma é bela, Jerusalém também e tantas outras. Mas nenhuma delas tem a beleza de Assis. Assis é bela na sua tranquilidade. Bela pelas suas paisagens – uma cidade em cima de uma montanha, com toda a vista dos campos aráveis abaixo. Bela pelas suas casas antigas, de pedra, pelas suas ruas estreitas.

Acima de tudo, Assis é bela pela sua espiritualidade, presente nos principais lugares santos: a Basílica de São Francisco, onde está o corpo do santo, a Igreja de Santa Clara, onde está o corpo desta santa, o convento de São Damião, onde ele passou seus últimos dias e ela viveu e faleceu. Há ainda a Basílica de Nossa Senhora dos Anjos, nos campos da Cidade, dentro da qual está a Porciúncula, onde S. Francisco se retirava em oração e onde, ao lado, veio a falecer.

Para completar, fiquei hospedado entre os franciscanos menores, que me acolheram muito bem e com quem tive agradáveis conversas (apesar do meu fraco italiano). Pensem no que é estar em um mosteiro com a idade do Brasil, com toda sua mobília antiga. No enorme refeitório um afresco de quatrocentos anos ilustra a paixão de Cristo. Tive o privilégio de que um destes franciscanos, idoso, de muita sabedoria, me desse duas pregações exclusivas para mim, sobre a vida espiritual. Que ingênuo eu fui quando, ao entrar na sala, estranhei que ele não tinha apontamentos… Logo percebi que ele falava de Francisco, de pobreza, de amor a Deus com a vida… Seus olhos demonstravam isso.

Como tudo ali primava pela simplicidade, Deus quis falar a mim também por gestos simples, por meio de crianças. Estava em um momento de oração quando vejo uma criança abrindo os braços confiantemente ao seu pai, para que ele a pegasse no colo. Deus me falava do Seu cuidado. Em outro momento, diante do túmulo de S. Francisco, vejo um pai que sai com seu filho nos ombros. Ele mesmo nem percebeu o beijo que o garotinho deixou para trás, em direção ao santo. Gestos como estes confirmam que, apesar de tudo, a inocência e a piedade têm lugar neste mundo. Um contraste, certamente, com todo ambiente violento em que vivemos, como me disse outro frei ancião que presenciou a II Guerra, mas que se sente mais ameaçado hoje do que naqueles dias que bombas caiam do céu.

São Francismo e Santa Clara são quase onipresentes ali. Após tantos séculos seu odor de santidade permeia o lugar, nos mostrando que a amizade com Deus é tudo o que levamos deste mundo e também o que deixamos de bom para os outros. A vida deles é ímpar e inimitável, mas o desejo de Deus deve ser nosso ponto em comum com eles. Por um Deus que é “Altíssimu, onnipotente bon Signore…” (início do “canto das criaturas” poeticamente declarado por Francisco nos seus últimos dias de vida, em italiano antigo). Como me disse o frei, este é o marco de Francisco: amor reverencial total a Deus!

Paro por aqui para não me estender demais. Houve momentos engraçados como o italiano que, em seu modo de falar, alto e gesticular, parecia falar comigo no meio da rua, mas depois vi que era com sua mulher, que estava alguns metros para trás… Não menciono os meus colóquios com Deus pois estes prefiro guardar no coração. Mas posso dizer que Deus em tudo foi muito bom comigo, muito acima do que eu mereço. E posso dizer que rezei muito por muita gente lá.

Para quem se interessar, sugiro ver as fotos e vídeos no meu facebook.

Paz e bem!

Pe. Silvio, MIC

 

 

 

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