Atentados na França: tentativa de compreensão cristã

O atentado na França, realizado há poucos dias, despertou uma série de perguntas, muitas ainda sem respostas. O texto que segue é uma tentativa de ajudar os cristãos a ter uma melhor compreensão do que está ocorrendo. Um dos principais questionamentos se refere à gênese ideológica dos atentados, ou seja, estaríamos diante de um embate entre religiões – mulçumanos versus cristãos – ou mesmo entre civilizações – oriente versus ocidente?

A situação toda é tão complexa que penso que não podemos reduzir a resposta a um “sim”, ou, “não”. Temos que considerar, ainda, que a resposta adequada a estas perguntas determina nosso posicionamento moral, a nível pessoal, e ações a serem tomadas na sequência, como sociedade.

Motivações

Os atentados na França são, antes de tudo, políticos. Devemos observar que diversos outros países, majoritariamente cristãos, mas com população mulçumana, como é o caso do Brasil, não sofrem atentados. Isto se deve ao fato do Brasil não estar envolto em uma guerra na Síria ou em algum outro país oriental e também porque o Brasil não esteve presente nos pactos e decisões que formaram a atual “colcha de retalhos” da geopolítica mundial, precipitada, principalmente, após a primeira guerra mundial. Nestas divisões, motivadas por interesses político/financeiros, populações foram arbitrariamente divididas ou misturadas, tanto no oriente como na África, gerando muita tensão. [1]

Os miseráveis que se envolvem na execução de atentados terroristas, expressam o pior sentido da miséria: a falta de Deus no coração. Ainda que possam ter recebido uma “educação” religiosa um tanto quanto “justiceira” e tendenciosa à violência, o seu extremismo explica-se pelo deliberado ódio, assumido voluntariamente. A cúpula e as lideranças do ISIS são pessoas sanguinárias que aliciam e fazem a lavagem cerebral de outros. Mas ainda estes últimos, como podem explodir-se e matar sem remorso? Tocamos aqui no mistério da iniquidade, que arromba o coração de quem a ele não se opõe (cf. Gn 4,7).

Cabe neste momento a justa indagação às autoridades religiosas mulçumanas: será que os líderes religiosos do Islã preocupam-se em instruir seu povo, abertamente, contra a violência? Será que os jovens muçulmanos, que frequentam os cultos islâmicos, são atingidos por este discurso? Será que frequentam algum culto…?

Cristãos não são “ocidentais”

Devemos considerar, também, que existem atentados motivados pela questão religiosa. Nestes, em sua maioria nos países orientais e africanos (Síria, Iraque, Quênia, Nigéria, etc), os cristãos são mortos, exatamente, por serem cristãos, não, simplesmente, por serem ocidentais. Aqui o problema se alarga. Talvez aos olhos dos extremistas, e mesmo da maioria dos mulçumanos, cristão se identifica com “ocidental”. Sabemos que isso não é verdade porque o termo “ocidental”, neste contexto, não delimita uma região do globo tão somente, mas um modo de vida.

Os cristãos de fato “não são deste mundo” (Jo. 8,23) e não “amam [o modo de vida] deste mundo” (1Jo 2,15). Se o sentido de “ocidental” significa a vida boêmia da qual Paris se orgulha ou, ainda, as leis antivida que vemos aprovadas nos EUA com o “casamento” entre pessoas do mesmo sexo e o aborto, que há décadas condena milhões de seres humanos desde o ventre materno à cruel carnificina, essa palavra não nos representa. Esses governos, com suas leis iníquas, seu modo de vida liberal, sua ideologia anticristã não representam os verdadeiros cristãos.

Assim, como cristãos, estamos em duas frentes de batalha. Por um lado, sofremos o cruel ataque interno, de uma ideologia liberal, antivida e antifamília, que ceifa mais vidas de jovens do que o atentado de Paris; uma ideologia fantasiada de democracia. De outro, somos atacados, em nossos países, por aqueles que não experimentaram a lei do Amor.

Ações

Diante desta situação de medo e terror temos uma situação que urge respostas. O que fazer quanto aos imigrantes sírios? Há os que defendem sua livre entrada. Há os que querem simplesmente rejeitá-los, por verem neles uma forma de invasão mulçumana e infiltração de terroristas, o que realmente é possível. Ainda assim, abandonar milhões de mulheres e crianças à sua própria sorte não parece justificável e muito menos algo que se coadune com a parábola do Bom samaritano (cf. Lc 10,30ss).

Diz nosso Magistério: “A Igreja oferece o seu amor e assistência a todos os refugiados, sem distinção de religião ou raça, respeitando em cada um deles a dignidade inalienável da pessoa humana, criada à imagem de Deus (cf. Gn 1:27).”[2]

Se a acolhida aos refugiados, sob restritas condições, é uma necessidade a curto prazo, o que resolveria, a longo prazo, grande parte da situação, seria que os poderosos governos deixassem de lado seus puros interesses econômicos e ideológicos para unirem forças para eliminar o ISIS do planeta. Mas não basta a ação bélica, há que se favorecer a soberania dos povos, cooperando com know-how e investimento para a abertura de fábricas naqueles países, a fim de que as pessoas lá permanecessem, bem como outras ações semelhantes. Nunca teremos o paraíso na terra, mas com menos interesse há mais respeito.

Voltando à França, a “filha primogênita da Igreja”, ainda que muito do problema seja político, sabemos, no entanto (estamos fazendo uma reflexão cristã!), que o mundo é controlado pelo Senhor.

“’Jerusalém. “Ah! Se pelo menos neste dia tu também compreendesses a mensagem da paz! Mas ai! Isto agora está oculto aos teus olhos. Virão dias sobre ti, em que teus inimigos te cercarão de trincheiras, investirão contra ti e te apertarão de todos os lados. Vão te abater juntamente com os teus filhos que estiverem dentro das tuas muralhas, e não deixarão de ti pedra sobre pedra, porque não soubeste reconhecer o tempo em que foste visitada!’”(Lc 19,42-44)

Ah se a França fosse menos ateia, menos boêmia! Se seguisse a piedade e ensinasse as virtudes de Santo Irineu, São Martinho de Tour, Santa Joana D’arc, Santa Teresinha e tantos outros dos seus filhos ilustres. Não há dúvida que a mão do Senhor a protegeria! Em vez disto, tem tomado, desde 1789, a resoluta decisão de fundar um sociedade com economia, política e leis sem Deus.

Quem não tem fé chama esta conclusão – a necessidade de volta para Deus – de “alienação”.  Talvez recorrer a fatos históricos possa nos convencer do contrário: em 1571 a frota cristã, em menor número, vence a invasão turca, que destroçaria a Europa. O papa, iluminado pelos céus, havia pedido a oração do Santo Rosário. O vizinho francês – Portugal – foi preservado da II Guerra Mundial porque atendeu à Nossa Senhora de Fátima e consagrou-se a o Seu Imaculado Coração. Não há dúvida que se os povos ocidentais fossem mais tementes a Deus a paz nos envolveria e teríamos mais sabedoria para lidarmos com momentos díficeis. Contudo, viver na luz da fé não esta na moda…

 

 

 

 

 

 

[1] Para melhor conhecer esta questão sugiro este breve vídeo http://www.gazetadopovo.com.br/mundo/video-viral-mostra-em-15-mapas-como-a-siria-virou-uma-bomba-relogio-f1gbzoh9w8mqr4sb4hp4hprjl e a leitura de Tragedy and Hope

[2]http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/corunum/documents/rc_pc_corunum_doc_25061992_refugees_en.html

Um comentário em “Atentados na França: tentativa de compreensão cristã

  1. maria sueli gomes

    É PRECISO MUITA ORAÇÃO E INTIMIDADE COM DEUS, PARA ENXERGAR O PANO DE FUNDO DE TUDO O QUE ESTÁ ACONTECENDO A NÍVEL MUNDIAL. PRA MIM PARTICULARMENTE TUDO ESTÁ SENDO CUMPRIDO , MUITO JÁ FOMOS AVISADOS POR NOSSA SENHORA, SUAS MENSAGENS, SEUS PEDIDOS DE ORAÇÕES. A PALAVRA DE DEUS MUITA CLARA, E OUTRAS EXPERIÊNCIAS QUE VIVO COM DEUS DURANTE À SANTA MISSA. A HUMANIDADE CAMINHA PARA UMA DIREÇÃO MUITO PERIGOSA. INFELIZMENTE SE AS PESSOAS NÃO VOLTAREM PARA DEUS E REZAR PRA VALER, O INEVITÁVEL SERÁ IMPOSSÍVEL. QUE DEUS TENHA MISERICÓRDIA DE TODOS NÓS, PELA TREMENDA IGNORÂNCIA ESPIRITUAL.

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